sexta-feira, 25 de março de 2011

"Estilo Tribal" Oque é isso?

O que é Estilo Tribal?

*Texto de Shaide Halim*

Não pode ser considerado folclore. Também não é etnicamente tradicional. O Estilo Tribal divide gostos e opiniões, e deixa uma dúvida: o que é afinal esta dança? Para quem ainda não conhece, Estilo Tribal é uma modalidade de dança que funde arquétipos, conceitos e movimentos de danças étnicas das mais variadas regiões, como a Dança do Ventre, o Flamenco, a Dança Indiana, danças folclóricas de diversas partes do Oriente e danças tribais da África Central, chegando até mesmo às longínquas tradições das populações islâmicas do Tajisquistão e Uszbequistão.



Este estilo surgiu nos EUA, nos idos dos anos 70, quando a bailarina Jamila Salimpour, ao fazer uma viagem ao Oriente, se encantou com os costumes dos povos tribais. De volta à América, Jamila resolveu inovar e mesclar as diversas manifestações culturais que havia conhecido em sua viagem.


Com sua trupe Bal Anat, passou a desenvolver coreografias que utilizavam acessórios das danças folclóricas e passos característicos da dança oriental, baseando-se em lendas tradicionais do Oriente para criar uma espécie de dança-teatro, acrescentando a isso um figurino inspirado no vestuário típico das mulheres orientais.


Uma forte característica trazida das danças tribais é a coletividade. Não há performances solos no Estilo Tribal. As bailarinas, como numa tribo, celebram a vida e a dança em grupo. Dentre as várias disposições cênicas do Estilo Tribal estão a roda e a meia lua. No grande círculo as bailarinas têm a oportunidade de se comunicarem visualmente, de dançarem umas para as outras, de manterem o vínculo que as une como trupe. Da meia lua surgem duetos, trios, quartetos, pequenos grupos que se destacam para levar até o público esta interatividade.


Nos anos 1980, novas trupes já haviam se espalhado pelos EUA. Masha Archer, discípula de Jamila, ensina a Carolena Nericcio a técnica criada por Jamila para obter um melhor desempenho de suas bailarinas. Esta técnica baseia-se nos trabalhos de repetição e condicionamento muscular do Ballet Clássico adaptados aos movimentos das danças étnicas. Incentivada pelas diferenciações do novo estilo, Carolena forma sua própria trupe e dá novos contornos à história do Estilo Tribal.







O figurino utilizado por Jamila e sua trupe cobria o torso da bailarina, sendo composto basicamente por djellabas ou galabias. Isso tirava, segundo Carolena, um pouco da intenção e visualização do movimento. Surge então um novo visual, que até os dias de hoje continua predominando no cenário Tribal: saia longa e larga (sem abertura nas laterais), calça pantalona ou salwar (bombacha indiana), choli (blusa tradicionalmente utilizada pelas mulheres indianas embaixo do sari), sutiã por cima da choli, xales, cintos, adereços, moedas e borlas (os famosos pompons!) para incrementar o traje e dar maior visualização aos giros e tremidos.



Além deste novo figurino, Carolena e sua trupe Fat Chance Belly Dance trouxeram ao Estilo Tribal a característica mais forte do ATS (American Tribal Style -Estilo Tribal Americano): a improvisação coordenada. Essa improvisação parece uma brincadeira de “siga o líder” e baseia-se numa série de códigos e sinais corporais que as bailarinas aprendem, trupe a trupe. Esses sinais indicam qual será o próximo movimento a realizar, quando haverá transições, trocas de liderança etc. Ainda falando das inovações trazidas por Carolena, a nova postura, oriunda na dança flamenca, e as posições corporais diferenciadas na execução dos passos dão amplitude aos movimentos, sendo então melhor visualizados pelo público.



Nos anos 1990, o Estilo Tribal passou a demonstrar com mais força a presença da Dança Indiana, do Flamenco e mesmo das técnicas de Dança Moderna e do Jazz Dance. Nasce então o Neo Tribal. Esse sub-estilo já não se mantém preso ao sistema de sinalização do ATS, trabalha com peças coreografadas e ganha liberdade com a adição de novos movimentos, inovações cênicas, acessórios e mesmo na composição do figurino, embora mantendo semelhança ao criado nos anos 1980.






Em 2002, no Brasil, Shaide Halim cria a Cia Halim Dança Étnica Contemporânea – a primeira trupe tribal do Brasil. Desenvolvendo um trabalho baseado nestas modificações pelas quais o estilo passou, inova mais uma vez ao trabalhar com as danças de uma forma mais homogênea. Ao contrário dos grupos norte-americanos, que mantém a dança do ventre como base, a Cia Halim tem seu trabalho coreográfico orientado pela composição musical, ou seja, a ênfase de uma ou outra modalidade de dança, seja esta oriental, indiana, africana ou flamenca, virá do tema musical escolhido.



Baseada nessa premissa surgiram as parcerias da cia com músicos representantes da world music nacional, como MA3, Marcus Santurys e Atman. E dessas parcerias surgiu uma nova fonte de inspiração para o desenvolvimento do estilo, com a adição de sons e movimentos oriundos das danças folclóricas brasileiras. Assim nasce o Estilo Tribal Brasileiro.


Atualmente, o interesse pelo Estilo Tribal cresceu e surgem novas trupes espalhadas por todo o país. Algumas se baseiam no Estilo Tribal Brasileiro, outras buscam inspiração nos trabalhos das trupes de ATS, de Neo Tribal ou de Tribal Fusion, uma vertente ainda mais recente dessa última, como é o caso da Índigo, cia coordenada pela bailarina norte-americana Rachel Brice, que utiliza músicas Lounge, Chill Outs e Techno-Orientais, e baseia seu trabalho na dança do ventre associada à pranayamas de Yoga e poppings de hip hop.


O Estilo Tribal não pára. No Brasil já virou febre. O que importa agora é que seu desenvolvimento aconteça de forma adequada. Que a dança possa ser vista pelo público e apresentada pelas bailarinas de maneira consciente. Que o estudo das técnicas relacionadas ao Tribal, como a dança do ventre, a dança indiana e o flamenco, seja levado a sério, para que os grupos que se desenvolverem por aqui tenham qualidade artística verdadeira, e não se torne apenas um arremedo mal feito dos trabalhos norte-americanos.





Shaide Halim iniciou seus estudos em dança em 1982, pelo ballet clássico, tambem estudando outras modalidades como dança do ventre, dança indiana, dança afro, flamenco, jazz e dança moderna. Criadora e diretora da Cia Halim Estilo Tribal, estuda o estilo desde 1990 e desenvolveu o Estilo Tibal Brasileiro, difundido no Brasil desde 2001 por meio de shows e workshops em todo o Brasil, e também França e Islândia.



                                                                   Khadija Saad
















 







Khaleege ou Raks El Nacha´at

Khaleege em árabe significa Golfo, e é uma dança também conhecida como Raks El Nacha´at.


É uma dança folclórica que se originou no Golfo Pérsico (área da Península Arábica que envolve Bahrain, Emirados Árabes, Quatar, Arábia Saudita, Kwait, Oman).

Tradicionalmente feita por mulheres e em grandes círculos, mas hoje homens também podem dançar.

A roupa típica é uma bata larga e cumprida, de um tecido fino, com bonitos bordados na frente. Por baixo, pode-se usar calça "jeannie" ou vestido. As bailarinas profissionais podem usar a roupa tradicional de 02 peças usadas na dança do ventre. Não se usa nada no quadril. Nestes estilos, usa-se uma marcação muito simples com o pé (lembra um movimento pequeno e rápido, feito na areia do deserto), movimentos de ombros e cabeça, enfatizando o balanço dos cabelos. As mãos batendo no corpo,certamente é de influência cigana. Marcam o quadril ajustando a bata a ele. A destreza com a bata e a agilidade das mãos é imprescindível.

É costume as mulheres usarem incenso, de forma que a fumaça entre pela bata. Assim, o aroma é espalhado enquanto executam os movimentos com ela.

O ritmo utilizado é o Khaleege ou Soudi.


Khaleege Feminino


A principal característica que percebemos nesta dança é a famosa "ginga", a dançarina precisa movimentar os ombros, balançar o corpo para frente e para trás. Um pé fica na frente do outro nos deslocamentos, e a jogada de cabelos é essencial.

Além dessa expressão do corpo, evidente quando ouvimos o ritmo soudi, podemos utilizar alguns movimentos mais elaborados com as mãos e os braços, mas nada "Imagem & Ação", você não precisa simular o fogo crepitando nas areias do deserto (eu já vi...), mas fazer um charme, tocando a testa com o pulso nos dois lados da mão (em forma de concha), no peito (podemos colocar uma das mãos no peito quando jogar o cabelo), bater os pulsos (com delicadeza), e por aí vai.

A túnica do Khaleege é outra característica marcante deste folclore: chamada Tobe el Nashar, a longa túnica apresenta cores fortes, é bordada e muitas vezes possui uma textura ou bordado brilhantes, e é usado por cima de alguma roupa (muitas dançarinas do ventre usam o cinturão e o bustiê por baixo nas apresentações). Esta túnica ainda pode ser usada para compor os passos, ao segurá-la nos giros e nos deslocamentos. Os cabelos longos são fundamentais para compor este visual, devem vir soltos, podendo usar arcos para enfeitá-los.




Khaleege Masculino



Este folclore é uma dança beduína, os passos basicamente são a famosa "ginga" e um quê de malabarismo. Os homens dançam com o bastão ou com um rifle (Yoolah), o primeiro serve como uma espécie de apoio, para balançarem para frente e para trás em fila, também movimentando-o de forma semelhante ao Saidi (segurando com os braços para cima e o apoiando no ombro) e o segundo o giram sem parar, o jogando para cima e também usando como apoio. Os homens, além disso, dão uns saltinhos - tímidos - para acompanhar o acento do ritmo, semelhante ao das mulheres.

A roupa deste folclore é a roupa tradicional dos árabes do Golfo Pérsico. Isto é, muitos deles não usam só essa roupa para dançar, mas na sua vida cotidiana também.

                                                          Khadija Saad